27 agosto 2007

Suco de açaí x Doença de Chagas


A cada quatro dias, em média, uma pessoa é infectada com doença de Chagas ao beber suco de açaí na Amazônia. Tem sido assim nos últimos 15 meses, quando 15 surtos da doença foram registrados no Pará, no Amazonas e no Amapá.

Neste mês de agosto, já há dois surtos notificados: um em Breves (PA) e outro em Abaetetuba (PA). Quinze pessoas foram diagnosticadas com a enfermidade. Uma morte é investigada.

Os dados, do Ministério da Saúde, evidenciam uma nova preocupação do órgão: lidar com a transmissão oral um ano após receber da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde) um certificado de eliminação da transmissão pelo barbeiro "caseiro" (que vivia em colônias em buracos nas paredes de habitações precárias).

Desde junho/2006, 116 pessoas pegaram a doença após ingerir sucos típicos da região (principalmente açaí e bacaba -chamado de açaí branco) triturados com o barbeiro.

De acordo com o Instituto Evandro Chagas, de 1968 até 2005, foram registrados, em média, 12 casos por ano na região amazônica por via oral. Ou seja, houve aumento de 867%.

O ministério aponta ao menos três razões para essa situação: a subnotificação de casos até então, o desmatamento e as queimadas na Amazônia e a falta de cuidado e higiene no processamento artesanal da fruta.

"Houve um aumento na detecção de casos. Isso porque antes o número casos de doença de Chagas por ano era muito grande e não havia a distinção se era por transmissão vetorial [por picada], sangüínea ou oral", afirma Eduardo Hage, diretor de Vigilância Epidemiológica do ministério.

Ele diz ainda que foi implantado um sistema de vigilância específico para a região no final de 2005. "Agora, quando é feito exame de rotina para malária, também é verificada a presença de doença de Chagas."

Subnotificação

O chefe da seção de parasitologia do Instituto Evandro Chagas, Aldo Valente, concorda com a hipótese de subnotificação. "Estudos epidemiológicos dão conta que, para cada caso notificado, se tenha pelo menos 20 'silenciosos'."

Apesar disso, os dois dizem que outros fatores podem ter provocado a explosão de casos, como o desmatamento.

Todos os casos ocorreram em localidades rurais. Os surtos são limitados, já que há preparação artesanal do suco para amigos e parentes.

Outros três surtos com 21 doentes foram registrados no Nordeste do país, também por transmissão oral, em 2006.

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